247 – Em mais uma demonstração de desrespeito às instituições, o ex-presidente Jair Bolsonaro protagonizou nesta quarta-feira (7) um ato esvaziado em Brasília em defesa da anistia para os condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2022. A manifestação, que contou com público abaixo do esperado e teve baixa adesão popular, ocorreu apenas três dias após Bolsonaro ter recebido alta hospitalar por conta de uma cirurgia no intestino e apesar da recomendação médica expressa para que não participasse do evento.
Segundo a agência Reuters, mesmo sob o forte sol do início da tarde, o ex-presidente ignorou as orientações clínicas e permaneceu de pé por quase todo o trajeto de cerca de dois quilômetros, do ponto de partida na Torre de TV até a Esplanada dos Ministérios, subindo em um trio elétrico e ouvindo discursos de apoiadores. Em sua breve fala, insistiu na defesa da anistia: “Anistia é um ato político e privativo do Parlamento brasileiro. O Parlamento votou, ninguém tem que se meter em nada”, declarou, buscando pressionar a Câmara dos Deputados a votar o projeto que favoreceria golpistas já condenados.
Apesar do esforço, o resultado foi modesto. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, estimou a presença de cerca de 10 mil pessoas — número superestimado, quando as imagens indicam menos da metade disso. O temor entre aliados de um ato esvaziado, segundo fonte próxima à família Bolsonaro, confirmou-se, revelando a fragilidade de sua base mobilizadora.
Além da baixa adesão, chamou atenção a tentativa recorrente de Bolsonaro em se apropriar das cores nacionais, vestindo-se de verde e amarelo como se fossem símbolos exclusivos de seu campo político. Essa prática, que visa sequestrar a identidade nacional para servir a projetos autoritários, mais uma vez foi utilizada como escudo retórico para justificar uma pauta antidemocrática — a anistia a quem tentou impedir a posse do presidente legitimamente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
O gesto de Bolsonaro também lança dúvidas sobre a real gravidade de suas frequentes internações, que em momentos estratégicos servem como álibi político, seja para evitar depoimentos, decisões judiciais ou, como agora, para criar uma imagem de sacrifício pessoal em nome de sua militância. Em março, ele se tornou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado, e as testemunhas do processo começarão a ser ouvidas no próximo dia 19 de maio, sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes.
A tentativa de mobilização bolsonarista em Brasília, marcada pelo desrespeito às regras democráticas, pela instrumentalização de sua própria saúde e pelo uso indevido dos símbolos nacionais, termina por expor o esvaziamento de um projeto político que insiste em mirar o passado autoritário, mesmo diante do desgaste visível de seu principal representante.