Atuação judicial e críticas à condução do caso levantou debate sobre o racismo nas escolas
O caso de racismo que a filha da atriz Samara Felippo sofreu recebeu novos contornos. As duas estudantes de Ensino Fundamental que escreveram ofensas de cunho racial no caderno da menina terão que prestar serviços comunitários por quatro meses, como determinou a Justiça de São Paulo, responsável pelo andamento do caso. Como punição pelo ato cometido em abril de 2024, as adolescentes terão que cumprir seis horas semanais de prestação de serviços à comunidade. As informações são do G1.
O caso ocorreu dentro do colégio particular Vera Cruz, na Zona Oeste da Capital paulista, e segue agora em segunda instância, após recurso da defesa.
Veja as fotos
Samara Felippo está com 46 anosReprodução: Instagram/Samara Felippo

Samara e as filhas (rostos foram borrados para preservar a identidade das menores de idade)Reprodução: Instagram/Samara Felippo

Atriz compartilhou vídeo para chamar pessoas a participar de um curso de letramento racial que está desenvolvendo junto a uma especialista em práticas educativas antirracistasReprodução: Instagram/Samara Felippo

Samara demonstrou em suas redes sociais que ficou sensível ao caso. A atriz é mãe de duas meninas pretas e é ativista na luta contra o racismoReprodução: Instagram/Samara Felippo
As adolescentes, que cursavam o 9º ano, pegaram sem autorização o caderno da colega para copiar uma pesquisa. Depois do plágio, arrancaram as folhas e deixaram no material uma mensagem com conteúdo racista. O caderno foi devolvido de forma anônima nos achados e perdidos da escola.
A decisão judicial, emitida pela 2ª Vara Especial da Infância e da Juventude, enquadrou a ação como ato infracional análogo à injúria racial. Porém, os advogados das jovens recorreram, sustentando que a frase não teria conotação racial, pedindo que a infração fosse reclassificada como injúria.
Samara Felippo, mãe da vítima e ex-aluna do mesmo colégio, não escondeu sua frustração com o rumo do processo. Ela também relembrou que a audiência ocorreu justamente no aniversário da filha, o que intensificou ainda mais a dor de reviver o episódio.
A jovem, hoje em acompanhamento psicológico, foi retirada da escola após o fim do ano letivo, por decisão da mãe, que criticou o posicionamento institucional.
A atriz revelou ainda que esse não foi o primeiro episódio de preconceito vivido pela filha na escola. Segundo ela, a adolescente, que é negra, já havia relatado exclusões em trabalhos, fofocas recorrentes e até acusações infundadas; como quando foi responsabilizada por um objeto desaparecido em uma festa, apesar da falta de provas.
Mesmo sem a resposta judicial esperada, Samara enfatizou em entrevista ao portal G1 a necessidade de denunciar casos semelhantes. “A importância da denúncia é extrema, fazer o boletim de ocorrência pelas leis legais, porque o racismo precisa ser levado a sério e considerado crime neste país. Se elas são adolescentes, que sejam infratoras, e que tenham sanções adequadas, para que [isso] afete não só a minha filha ou a mim, mas toda uma sociedade”, disse ela.
Nas redes sociais, a atriz também se manifestou nesta última sexta-feira (18/4). “Eu ainda estou nessa luta e não só pela minha filha, mas pelos inúmeros casos de racismo que continuam acontecendo recorrentemente com adolescentes e crianças nas escolas”, escreveu.
O outro lado
O colégio Vera Cruz é conhecido por sua mensalidade elevada, que ultrapassa 5 mil reais. Em nota, a escola reconheceu o episódio como ato de racismo e promoveu mediações entre os envolvidos. As alunas responsáveis foram suspensas por tempo indeterminado e proibidas de participar de atividades escolares externas.
Ainda conforme o colégio, as estudantes agressoras se apresentaram voluntariamente com os pais no dia seguinte e novas medidas poderão ser aplicadas conforme o andamento das apurações.