A operação da Polícia Federal contra fraudes no INSS expôs os desvios que já eram de conhecimento do instituto. Pelo menos desde 2022, aposentados e pensionistas já denunciavam descontos irregulares nas folhas de pagamento. Segundo investigações, o esquema começou ainda antes, em 2019.
A estratégia da quadrilha é perversa: as entidades associativas se aproveitavam da vulnerabilidade dos beneficiários para descontar, mensalmente, valores relativamente baixos, mas que, ao fim das contas, rendem prejuízos consideráveis às vítimas e lucro exorbitante aos criminosos. Os desvios ocorreram entre 2019 e 2024 e podem chegar a R$ 6,3 bilhões, segundo as estimativas.
A megaoperação acarretou na demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, pelo presidente Lula (PT). O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, explicou que a indicação de Stefanutto foi de responsabilidade dele e que, até então, “tem dado todas as demonstrações de ser exemplar”.
Operações dessa magnitude têm inevitável impacto político. O Planalto se concentra em demonstrar pulso firme e impedir que o escândalo se arraste para dentro do governo federal.
Mas é preciso mais do que explicações diante desse ataque aos beneficiários do INSS. Segundo levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU), as instituições associativas lucram R$ 1,55 bilhões por ano. É necessário agir com rigor na fiscalização dessas entidades que, em tese, não deveriam ter fins lucrativos. Essa é uma missão suprapartidária e deve ser tratada como um compromisso do Estado brasileiro.
A corrupção vem para vilipendiar ainda mais a dignidade dos 40 milhões de brasileiros que dependem do INSS. A fila de requerimento do instituto chegou a mais de dois milhões de pessoas em dezembro do ano passado.
A punição dos criminosos que parasitam o INSS deve ser exemplar, ao lado de um pente-fino periódico capaz de impedir fraudes no sistema.